Em vésperas da estreia lusitana no Euro 2016, a VAVEL Portugal coloca em campo a opinião de quem lidou com o esférico ao mais alto nível. Em entrevista exclusiva, António Veloso falou sobre tudo e nesta primeira parte o ex-internacional português abordou toda a actualidade da equipa das quinas, afirmando que Portugal tem um leque de jogadores talentosos que, juntamente com Ronaldo, têm tudo para levantar o tão ambicionado troféu europeu.

Numa conversa sobre futebol, Veloso falou das ausências nos eleitos de Fernando Santos, de táctica e avançou até com um onze provável para o primeiro jogo diante a Islândia. Numa viagem a 1984, o ex-craque da Selecção recordou com saudade toda a caminhada lusa até à meia-final do Euro, numa competição que apadrinhou a estreia absoluta de Portugal em Europeus de Futebol.

"União, ambição e força mental para vencer o Euro", António Veloso

A VAVEL Portugal teve o privilégio de conversar com um ex-jogador mediático que brilhou ao serviço do Benfica e da Selecção de todos nós. Aos 59 anos, António Veloso está fora dos relvados, mas a experiência e análise de quem já pisou os grandes palcos é fundamental para antever a campanha portuguesa em França para disputar o Euro 2016. A entrevista divide-se em 3 partes e na 1ª Veloso abordou o passado e o presente do futebol da equipa lusitana.

Depois da goleada de 7-0 diante a Estónia, Portugal prepara com rigor a estreia no Euro diante a organizada Islândia. Para Veloso vencer o primeiro jogo é fulcral, pelo que subestimar este tipo de equipas cautelosas é um erro que pode revelar-se fatal: "O primeiro jogo é muito importante porque é meio caminho andado para o apuramento. Quando Portugal ganhar a bola tem de circular rapidamente o jogo, para tal é fundamental que o primeiro passe seja eficaz. Caso contrário pode beneficiar a Islândia que estará à espreita de um erro para tentar surpreender. Se os lusos acertarem os passes ganham confiança para encontrar espaços e desbloquear a organização islandesa", afirmou Veloso.

Veloso ao serviço da selecção // Foto: fpf.pt
Veloso ao serviço da selecção // Foto: fpf.pt

Na perspectiva do ex-internacional luso, o 11 ideal para atacar o jogo inaugural diante a Islândia seria: "Na baliza é obviamente Rui Patrício, nas laterais Raphael e Cédric, no centro Pepe e Ricardo Carvalho pela experiência e rotinas em jogarem juntos. No meio campo Danilo por ser um pivot consciente na forma como defende e ataca e por ter uma presença física forte. Um pouco à frente, João Moutinho e no quarteto da frente Rafa, João Mário, Nani e Ronaldo”, confessou Veloso.

Questionado acerca das possibilidades de Portugal vencer o Euro, António Veloso denota imensa confiança no talento desta equipa e lança a palavra-chave para chegar ao topo: a ambição. "Para este Euro em particular, Portugal tem um leque de jogadores jovens com muita qualidade e outros mais experientes muito bons, mas falta assumir claramente que somos candidatos. Já chega de dizer que vamos fazer o nosso melhor, temos de ter ambição de ganhar com determinação e união porque ter bons jogadores e fazer o melhor não chega, basta olhar para o caso da Holanda que nem está apurada para a fase final", declarou o ex-jogador.

Esta geração da Selecção lusa colocou Fernando Santos num impasse terrível ao ter de excluir alguns valores da convocatória. António Veloso entende as escolhas do técnico lusitano, mas não deixa de avançar com dois nomes que poderiam ter viajado para França. "É um papel difícil para um seleccionador ter de optar por um ou outro jogador, mas talvez André Silva e Pizzi merecessem estar no Euro”, afirmou Veloso. Falar de André Silva em comparação com Éder é inevitável e a discussão é muito pertinente. "O Éder é um jogador que tem sido convocado muitas vezes porque não existia outro. O Hélder Postiga e o Hugo Almeida desapareceram portanto temos de olhar para André Silva à imagem de Renato Sanches. São jovens móveis, com alma e como tal penso que se André Silva apareceu e tem qualidade tem de jogar",confessou a ex-glória da selecção.

Para Veloso, a jovem pérola do Porto é uma das principais ausências dos convocados // Foto: FC Porto
Para Veloso, a jovem pérola do Porto é uma das principais ausências dos convocados // Foto: FC Porto

A mudança táctica do conjunto luso do 4-3-3 para o 4-4-2 mereceu curiosas declarações de António Veloso. Para o antigo jogador, a mudança estratégica surgiu porque a qualidade dos jogadores assim o permite. A qualidade-quantidade de médios polivalentes permite a esta nova selecção imprimir uma dinâmica incrível que faz com que sejam visíveis inúmeras variâncias tácticas nos diferentes momentos de jogo. "A táctica tem inteiramente a ver com a qualidade dos jogadores e com a inteligência que os mesmos têm na forma como assimilam as ideias do treinador. O rigor defensivo e ofensivo de uma equipa é que faz com que a táctica seja ou não eficaz."

Abordar o tema Euro 2016 sem falar de Cristiano Ronaldo é como falar de futebol sem golos, e como tal Veloso não escondeu que CR7 é a grande fonte de motivação do país de Camões: "A tal ambição de que falo tem de fazer parte do discurso da equipa e quem melhor do que o astro do Real Madrid para a transmitir? É verdade que Cristiano não pode fazer tudo sozinho, mas ter o melhor do mundo tem de motivar ainda mais esta geração talentosa", vincou Veloso. Por fim o ex-craque da selecção afirmou que a França é favorita à conquista do Euro por jogar perante o seu público.

António Veloso vê Ronaldo como uma fonte de motivação para os jogadores talentosos da selecção das quinas
António Veloso vê Ronaldo como uma fonte de motivação para os jogadores talentosos da selecção das quinas

Os dados estão lançados e Veloso deixou a mensagem certa. Portugal tem valores seguros, tem qualidade de jogo e tem o melhor do mundo, mas para dar o salto rumo ao título é necessário ambicionar vencer a todo o custo para que Portugal conquiste definitivamente um lugar de destaque nos vencedores das grandes competições de nações do velho continente.

António Veloso na selecção: "Em 84 faltou estabilidade para vencer a prova"

Com uma carreira sólida e digna, António Veloso subiu degrau atrás de degrau com a humildade necessária para construir um percurso muito positivo ao serviço da selecção nacional. Na equipa A, Veloso alinhou em 39 duelos das quinas, mas como o próprio afirma acabou por ser prejudicado por uma lesão no perónio que o impediu de representar Portugal durante 2 anos.

Para a História ficará a geração em que Veloso jogou, que garantiu uma qualificação incrível para o Euro de 84. Até então, só os “magriços” de Eusébio sabiam o que era alinhar numa fase final. No Europeu pela primeira vez, Veloso recorda a campanha de estreia dos lusos que culminaram na meia final perdida diante a França, com o fatídico tento de Platini no prolongamento. "Na primeira fase empatámos com a poderosa Alemanha e ganhámos motivação. Na meia final, a França a jogar em casa esteve muito forte e não tivemos sorte," recordou Veloso.

De 1984 a 2016 passaram 32 anos e neste novo século atingir fases finais de europeus é algo a que os portugueses estão habituados. A verdade é que a evolução é soberba, porque a realidade da geração de Veloso estava longe de ser profissional. "Em 84 podia ter corrido melhor, mas tínhamos 4 treinadores que puxavam cada um para seu lado. No primeiro jogo eu era para jogar, mas quando saiu a constituição das equipas eu não estava lá."

Em 3 décadas muita coisa mudou e o ex-praticante revela as principais diferenças: "O meu percurso na selecção foi bom, mas eram raros os jogos de preparação e a organização não era a melhor. Desde então alterou-se muita coisa. A orientação mudou e hoje Portugal está presente em muitas fases finais. Em 84 faltou estabilidade. Tínhamos uma grande equipa, mas com 4 treinadores e problemas relacionados com os prémios de jogo que iríamos receber acabou por dificultar as coisas. Ainda assim fizemos um óptimo Europeu".

A primeira parte da entrevista de António Veloso à VAVEL deixa uma mensagem forte à selecção das quinas, e falar de ambição é algo muito relevante para que Portugal dê o passo que faltou em 2004: Vencer o Euro de uma vez por todas!

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