Desde há muito que o jornalista e sociólogo Pippo Russo tem vindo a investigar o funcionamento dos chamados "Super-Agentes" e Fundos de Investimento no mundo do futebol. No seu último livro "A Orgia do Poder", Russo foca a sua atenção em Jorge Mendes, agente conhecido pela sua profunda rede de contactos e gestor das carreiras dos jogadores e treinadores mais mediáticos do futebol mundial.

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Segundo o italiano, a profunda influência de Jorge Mendes (e de outros actores extra-futebol) no mercado de transferências acaba por, ao contrário do que se poderia esperar, trazer mais prejuízo do que benefícios aos clubes com qual trabalha. Russo menciona ainda o exemplo do Sporting como clube que percebeu essa mesma realidade.

Foto: AFP
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«Há a opinião geral de que Jorge Mendes ajuda os clubes a fazer boas vendas, mas temos de perceber para onde vai o dinheiro. Essa é a verdadeira questão. Por exemplo, o Sporting, sob a presidência de Bruno de Carvalho, descobriu que a relação com Jorge Mendes e com outros actores, como a Doyen Sports ou Pini Zahavi, não eram tão convenientes para o clube. O clube perde controlo sobre os seus jogadores. Perde soberania no que toca a decidir o seu próprio destino.».

Sobre a posição do Sporting relativamente a estes intervenientes, Pippo Russo elogia a atitude dos leões e sonha com um futebol livre de fundos e "super-agentes".

«O que Bruno de Carvalho me disse foi que, quando foi eleito, encontrou uma situação em que o clube quase não tinha controlo sobre os seus jogadores. Por isso, a decisão de mudar completamente a estratégia económica e das relações com superagentes, entre os quais Jorge Mendes, foi a natural consequência da mudança de política do próprio clube. Na minha opinião, foi a escolha certa. Sonho com o dia em que o futebol internacional seja livre da presença desses actores, como Jorge Mendes, Mino Raiola, Pini Zahavi ou Doyen. Não sei se é uma utopia, talvez seja. Mas, quando vejo um clube a decidir cortar relações com Jorge Mendes, ou outro ator como ele, fico realmente feliz.».

Apesar da postura dos leões, a verdade é que os mesmos acabaram por perder o caso "Marcos Rojo" para a Doyen Sports, decisão que surpreendeu o sociólogo transalpino.

Foto: Vavel.com
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«Fiquei bastante surpreendido quando o TAS deu razão à Doyen. Não percebo como é possível um tribunal dar razão a um ator que está fora do mundo do futebol e que quer especular através do futebol. Mas é uma discussão de advogados. Eu sou um sociólogo e só posso registar os factos e expressar a minha opinião, que é contrária. Fora deste julgamento, penso que o princípio de lutar contra estes atores está certo. É um princípio que precisa de ser levado em frente. Espero que outros clubes tomem o exemplo do Sporting e iniciem a sua luta contra estes atores.».

Apesar disso, Pippo Russo mostra-se satisfeito pelo facto destas entidades já serem mais conhecidas pela opinião pública e alvo de investigação por parte dos jornalistas. Contudo, para o italiano, a batalha ainda vai durar.

«Hoje em dia, atores como a Doyen ou Jorge Mendes são mais conhecidos do que eram antes. O interesse de alguns jornalistas de investigação teve como consequência mostrar essas pessoas ao público em geral. Se houve um tempo em que esses atores gozavam de um certo anonimato e mereciam elogios, agora estamos numa situação em que, felizmente, os meios de comunicação social são mais céticos. Fazem perguntas quanto à legitimidade destes atos no mundo do futebol e tentam perceber como funcionam os ganhos financeiros no mundo do futebol. Nesse sentido, a batalha foi ganha. Mas outra parte da batalha continua, que é proibir a ação destes atores no futebol. Esta parte da batalha vai ser mais difícil de vencer, porque estes atores arranjam sempre maneira de contornar as regras.».

Ao contrário do Sporting, o rival Benfica é conhecido pelas suas boas relações com Jorge Mendes. Mas Pippo Russo utiliza o exemplo da transferência de Renato Sanches para o Bayern de Munique como exemplo do modus operandi de Mendes e outros agentes.

Foto: Globoesporte.com
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«Em primeiro lugar, se os clubes não são donos da totalidade dos direitos económicos dos seus jogadores, parte do dinheiro das vendas não vai para o clube, vai para os agentes, para os fundos de investimento e para os outros actores que estão fora do futebol. No entanto, há outras situações em que o dinheiro não vai totalmente para o clube. Por exemplo, no último verão, o Benfica vendeu Renato Sanches ao Bayern Munique por 35 milhões de euros, podendo chegar aos 80 milhões com bónus. Tudo bem, grande venda. Mas, se depois o Benfica gasta 12 milhões de euros para comprar os restantes 50% de Raúl Jiménez, quando já tinha gasto dez milhões nos primeiros 50%, e gasta outros 16 milhões de euros para comprar Rafa... Estou a falar de dois jogadores controlados por Jorge Mendes. A soma da compra desses dois jogadores é superior ao dinheiro recebido com a venda de Renato Sanches. O resultado é negativo, onde está a conveniência para os clubes?.».

Até hoje, apenas o Sporting se declarou publicamente contra a influência de fundos e agentes no mundo do futebol. Contudo, Pippo Russo admite a existência de mais clubes com a mesma postura mas que ainda não a manifestaram oficialmente.

Sei que tem havido outros dirigentes a concordarem com Bruno de Carvalho, mas que não lhe expressaram apoio porque têm medo de ser vistos como inimigos por estes atores, que são muito poderosos.

Em 2017, Pippo Russo pretende que “L’orgia del potere” tenha a sua versão portuguesa.

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