Quem disse que o «tiki-taka» estava morto e enterrado? Quem o disse não poderia estar mais errado - para o provar, a reedição do duelo entre Barcelona e Bayern basta: duas equipas fundadas na filosofia táctica do totaalvoetbal de Rinus Michels, numa fusão com a prevalência da posse de bola paciente mas plena de intenção manipuladora/ofensiva. Pep Guardiola, imbuído desse espírito táctico que encontrou extensão em Johan Cruyff, fundou o Barcelona triunfante que arrecadou duas Liga dos Campeões e espantou o mundo do futebol com o bailado fluído da posse com intuito de cilindrar a oposição.

Vencedor do troféu em 2008/2009 e 2010/2011, Pep Guardiola marcou indelevelmente a História «blaugrana», mas, paulatinamente, ameaça deixar também a sua marca no Bayern Munique, crivando no ADN da formação bávara um estilo de jogo que encontra vários paralelismos com o Barcelona do seu tempo. O primado da posse de bola enquanto caminho para anular a acção do adversário, obrigando-o a actuar passivamente sobre a bola e sobre os espaços, é novamente directriz essencial na abordagem dos jogos - um corte com o glorioso Bayern de 2013 de Jupp Heynckes, uma herança pérfida e pesada que o catalão terá de exorcizar com títulos.

Executantes como Andrès Iniesta, Xavi, Thiago Alcântara ou Xabi Alonso garantem a fluídez do pensamento do «tiki-taka», enquanto jogadores como Lionel Messi, Neymar, Thomas Muller ou Franck Ribéry garantem a interligação entre a posse orientada para um fim e a acutilância ofensiva da busca pelo espaço, do ataque à ruptura das linhas defensivas. Futebol apoiado, futebol total, veloz, multiplicado por passes e desmarcações constantes. Barcelona e Bayern Munique personificam da melhor forma, na actualidade, o estilo de jogo «tiki-taka», contrariando a tese (proclamada após a derrocada do Bayern diante do Real, em 2014) de que «la possession» estaria morta.

Hoje, frente-a-frente, estarão duas equipas que beberam dos princípios do totaalvoetbal da década de 70, recurso estilístico de futebol aprimorado pela extensão de Cruyff e consolidado, nos tempos modernos, por Pep Guardiola, quer num clube quer noutro. Nesta meia-final da Liga dos Campeões estarão duas equipas que passam mal se a bola não estiver nos seus pés - como se debaterão pelo direito à posse de bola, e, como reagirão defensivamente à circulação do adversário? Independentemente de todos os pormenores tácticos, este duelo será jogado sob o espectro de Guardiola.

De um lado, um Barcelona que venceu a última Liga dos Campeões pela mão de Guardiola, orgulhoso do passado recente; do outro, um Bayern Munique buscando a reedição da redenção, tentando voltar a erguer o troféu vencido em 2013 para provar que a saída de Heynckes não foi um erro. Na memória fresca do Barcelona estará ainda o pesadelo da meia-final de 2013, jogada entre as duas equipas - no caminho do triunfo, os bávaros amassaram o Barcelona com um agregado de 7-0 (4-0 em Munique e 0-3 em Camp Nou).